É a confissão que restitui, que conserva a paz do coração, sem a qual não há felicidade possível. É ela que evita uma infinidade de crimes e de desgraças.
Monsenhor de Ségur | Por Pascom · 21 de março de 2018
RESPOSTA. — Primeiro, é necessário admitir que ela serve para alguma coisa boa, visto que é uma instituição divina, porque Deus não faz coisa alguma sem motivo.
Mas, ainda assim, você pergunta para que te serviria a confissão? Vá se confessar e verá para o que ela serve.
Serve para que cada um, de mau que era, torne-se bom; serve para que cada um emende seus vícios e ande a passos largos pelo caminho das virtudes mais heróicas.
“Para que me serviria a confissão?” — Pergunte a esse pobre rapaz, a quem sujavam os maus costumes, e cuja marca se imprimia já em seu rosto… Veja-o agora inteiramente mudado, tanto no físico como no moral. Então, que é que ele fez para obter esta transformação? Confessou-se e continua a se confessar. Antes não se confessava.
“Eu não sei o que o confessor disse; mas o caso é que ela entrou em casa com a paz no coração, e quase a alegria no rosto”.
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“Para que me serviria a confissão?” — Pergunte a esse operário, ainda há pouco tão devasso e apaixonado pela taberna; atualmente tão sóbrio, tão aplicado e econômico, e convertido em pouco tempo em modelo dos seus colegas. Sua mulher e seus filhos, qualquer dia desses, verão que a confissão serve para alguma coisa.
“Para que me serviria a confissão?” — Pergunte a essa pobre mulher acabrunhada pela miséria, carregada de filhos, maltratada por seu marido… A desgraçada muitas vezes se lembrou de dar fim à própria vida jogando-se debaixo de um carro… mas o pensamento de Deus e de seus filhos a deteve. Vai confessar-se… Eu não sei o que o confessor lhe disse; mas o caso é que entra em sua casa com a paz no coração, e quase a alegria no rosto. Leva as suas penas com paciência; sofre, sem se queixar, os maus tratamentos do seu marido… Este se pasma da repentina mudança, depois a admira, depois a ama, e, ciente da causa de tal transformação imita-a. Contabilize agora: um suicídio a menos; a conservação da mãe e seus filhos; uma família virtuosa a mais.
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Após esta pobre mulher, vem talvez um empregado que há muitos anos faz “certas economias”, um pouco arriscadas, às custas do seu patrão… Os remorsos o inquietam… Vai procurar um padre… Se o empregador examinasse minuciosamente seus negócios, bem depressa conheceria que as despesas diminuíram sem que baixassem os custos da sua empresa… e daí a uns dias recebe, de mão desconhecida, uns quatrocentos ou quinhentos reais.
Contabilize agora: um ladrão a menos; um escândalo talvez evitado a uma família honrada; um fiel empregado a mais.
“Para que me serviria a confissão?” — Pergunte-o aos miseráveis de certa vila de operários. O opulento empresário deixava-os abraçados à miséria, e gastava muito dinheiro em seus divertimentos… Há algum tempo porém que se confessa… Veja-o como está agora, assumindo o papel de pai dos desgraçados: ele mesmo vai procurar os necessitados, e os socorre em suas privações… Ora, toda esta pobre gente acha, e com razão, que a confissão serve para alguma coisa.
A confissão é o escudo da perseverança e da virtude. — É a casca, áspera e grosseira, eu o confesso, mas a casca protetora que conserva intacto esse fruto maravilhoso que se chama a consciência.
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“As leis e a polícia quase que não teriam o que fazer. Só nesta lei da Igreja: ‘Confessar-se ao menos uma vez cada ano’, haveria todo o remédio para regenerar todo o mundo”.
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É a confissão que restitui, que conserva a paz do coração, sem a qual não há felicidade possível.
É ela que evita uma infinidade de crimes e de desgraças.
É ela que levanta o pobre pecador, cuja fragilidade o tinha apartado de Deus! É ela principalmente que consola o moribundo prestes a comparecer ante seu Deus e seu Juiz.
Que mudança não se viria em toda a parte se todos se confessassem sincera e devidamente, como este ato requer.
As leis e a polícia quase que não teriam o que fazer. Só nesta lei da Igreja: “Confessar-se ao menos uma vez cada ano”, haveria todo o remédio para regenerar todo o mundo e suspender todas as Revoluções.
Julgai as árvores pelos frutos.
A confissão, bem como todos os outros pontos da Religião, não tem por inimigos senão a ignorância, os preconceitos e as paixões.
Em — Monsenhor de Ségur, ‘LXII – Para que serve a confissão?’, Perguntas e respostas (Porto, Moderna, 1946), pp. 138-141. — Adaptado.
Monsenhor de Ségur
Bispo francês (1820-1881), escritor apologético, confessor do Papa Pio IX
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